Autor: Contraditória(A)

Ida Wells

  • Saúde coletiva, liberdade e responsabilidade individual

    Saúde coletiva, liberdade e responsabilidade individual

    Certo dia participei de uma atividade onde algumas pessoas anarquistas relataram como foram comparadas ou chamadas de bolsonaristas por não terem querido se vacinar contra a COVID-19 durante a pandemia.

    Não respondi no momento, pois achei que o assunto estava fora do propósito da atividade e não queria alimentar essa discussão. E embora concorde ser contra vacinas ou não tomar vacinas não significa que a pessoa seja bolsonarista, ou mesmo de extrema-direita, entendo que não querer se vacinar em um momento como foi a pandemia do coronavírus em 2020 é uma postura que alimenta o negacionismo científico e teorias de conspiração. Além disso de certa forma também se aproxima da extrema-direita por colocar uma suposta liberdade individual acima do bem-estar de toda comunidade.

    A saúde é, ou pelo menos deveria ser, uma responsabilidade coletiva: produzir alimentos saudáveis e garantir que todys tenham acesso a eles, garantir que água, ar e terra estejam livres de contaminantes que possam prejudicar a nossa saúde e evitar a transmissão de doenças a outras pessoas da comunidade, com um cuidado especial para as mais vulneráveis.

    Alguém pode alegar que se vacinar ou não é uma escolha individual e que diz respeito a cada pessoa. “Se vacinar ou não é uma escolha de cada uma”. Mas as escolhas de uma pessoa podem afetar outras pessoas. Uma pessoa não vacinada tem uma probabilidade muito maior de contrair o vírus e contagiar outras pessoas. Isso é ainda mais sensível quando sabemos que existem pessoas que, por questões de saúde (como pessoas imunodeprimidas) não podem se vacinar e o vírus ainda representa para elas uma ameaça muito maior.

    Recusar-se a fazer algo que é de mínima consequência para si, mas que ao não fazer ameaça a vida de outras pessoas e a saúde coletiva, é uma postura próxima ao pensamento de extrema-direita, que defende uma suposta “liberdade individual” inconsequente que prejudica a coletividade.

    Sim, a indústria farmacêutica é uma das instituições mais perversas da atualidade, lucrando muito com a saúde e doença de bilhões de pessoas. Deixando aquelas pessoas que não podem pagar pelos seus tratamentos morrerem enquanto seus CEOs e acionistas se esbaldelam no luxo.

    E sim, precisamos lutar contra os avanços autoritários dos Estados que buscam ampliar suas formas de controle a todo custo, e em muitos lugares do mundo, aproveitaram a ocasião para aumentar o controle sobre os corpos que ali habitam e a repressão sobre movimentos sociais.

    Mas perceber e lutar contra esses problemas é diferente de ignorar os benefícios que a medicina e as vacinas nos trazem. Não faz sentido ignorar o conhecimento médico e os recursos que nos estão disponíveis no momento para salvar vidas. Nossa luta não é contra a medicina, mas para tirar o conhecimento médico das mãos de uma pequena elite e criar uma verdadeira medicina popular, não é acabar com a fabricação de vacinas e remédios, mas coletivizar os laboratórios e fábricas e distribuir esses medicamentos a quem precisa, não a quem pode pagar.

    Se recusar a tomar vacina quando isso pode prejudicar a saúde de outras pessoas mas traz pouco ou nenhum prejuízo pessoal é incoerente com movimentos que buscam o bem-estar coletivo e não apenas a liberdade, mas também a responsabilidade individual.

  • Olá!

    Chegando devagarzinho pra não assustar ninguém.

    Será que consigo manter um blog?